COMPLEXO DA CANASTRA – CHAPADÃO DA BABILÔNIA
FOTOGRAFIAS DE UMA VIAGEM.
Sérgio N. M. Lima.
Sempre gostei muito de viajar: estradas, trilhas, rios, rotas.
Trilhas, por exemplo: Serra da Canastra, Serra do Cipó, Transpantaneira, Reserva do Taim, entre outros lugares, maravilhosos que passei.
É muito importante para fazer uma trilha ou viagem, ela estar bem planejada, não devemos improvisar, a não ser em condições especiais.
O primeiro passo, que demos foi carregar o quadriciclo, para uso nas trilhas mais estreitas e complicadas. Sou fã incondicional de um quadriciclo, há 25 anos que uso este equipamento nas mais variadas situações: barro, areia, poeira, buracos, água. Ele nunca falhou comigo. É um equipamento rústico, confiável e resistente. A grande importância, como qualquer outro equipamento de uso, é dominar e conhecer seus limites. Treinar para seu uso e mantê-lo sempre em ordem.
Nessa excursão usaremos uma S-10 em determinadas situações e o Quadriciclo para outras.
O primeiro destino de Minas foi São João Batista do Glória.
A primeira visão, da viagem, foi do importante Rio Grande. E a surpresa, o quanto ele estava sem água, por todos os lados os bancos de areia estavam expostos. A espera da chuva, neste novembro de 2017 foi angustiante. Se não chover muito as represas não encherão, terá escassez de energia elétrica e em muitos lugares de água também.
O reservatório de Furnas, a montante deste ponto, está muito vazio, assim como todos outros a jusante de todo o rio.
Esta é uma imagem do Google, da região onde passamos, em São João Batista do Glória. Importante notar o tamanho do rio e o tamanho da cidadezinha, e seus cultivares em toda região. Pode-se notar a riqueza da agricultura nesta imensa calha do Rio Grande. As terras ao longo do Rio Grande são muito férteis, são terras de aluvião trazidas pelas chuvas nestes últimos milhares de anos, das erosões dos espinhaços das Minas Gerais, bacias aluviares se formaram ao longo de todos os rios, dos pequenos, aos mais importantes como: Rio Grande, São Francisco, Paranaíba, Paracatu, Rio Doce, Araguari, Urucuia, Rio do Sonho, entre centenas de outros. O Brasil fluvial é muito rico, ainda considerando a Bacia Amazônica que é a maior do mundo.
Logo após a ponte vários pés de flamboyant floridos enfeitavam o caminho a São João Batista do Glória. Chegamos lá com a “fome viajada”, felizmente achamos um modesto restaurante, mas com uma fartura de dar inveja a todos. A comida mineira, a hospitalidade das pessoas, não têm melhor que eu conheça, por todo esse mundão.
A primeira estrada de terra que passamos, é a ligação de S João Batista do Glória para Delfinópolis. Por sinal nunca passei por ela em condições tão boas, toda patrolada. Depois de 20 Km pega-se a direita para o Vale do Céu, muitas árvores floridas enfeitavam o trajeto.
Ampliando a paisagem de um dos exuberantes quadros que enfeitavam o trajeto, focamos este, por ser particularmente lindo e muito significativo. Uma casa típica do século passado, com um puxadinho ao lado onde o importante semi-trole era guardado, junto com o arreamento do animal. Ao fundo uma insubstituível vetusta moita de bambu. Não faltando uma grande moita de banana nanica, dando privacidade ao ambiente. Um estábulo bem conservado, para tirar o leite pela madrugada e levar ao ponto do leite na estrada de Delfinópolis. Mas sempre se reservava “um poquim” uns 30 litros para o famoso queijo fresco da canastra.
O enfeite insubstituível da natureza, um flamboyant completamente florido, dando sombra e beleza ao quadro. A galinhada correndo pelo terreiro, e os porquinhos rosnando no chiqueiro.
Esta é a essência cultural, que temos na alma brasileira. Por este motivo somos tão pacíficos e tolerantes com tudo no Brasil. “Ranchinho no pé da serra”. “O galo cantando”. “A bezerrada berrando”. “A brisa soprando, derrubando flores vermelhas pelo chão”. O que mais queremos?
Despertamos do sonho de uma existência pacífica e paramos. Olhando para a Serra Preta que é o limite do vale do Céu, na direção oeste do Complexo da Canastra. Seguindo o caminho pelo Vale do Céu, depois da subida da estrada de Pedra Calçada vem o Vale da Babilônia, nosso destino.
Esta longa subida íngreme delimita com os contrafortes da Serra Preta um profundo vale maravilhoso. A mata de altas árvores, atapetam o fundo do fértil vale, no silêncio do ambiente, apenas ouvimos o ruído branco do sonoro vento contornando as profundezas dos vales. Ficamos ali parados admirando a natureza, quantas nuances de contrastes, das altas montanhas aos profundos vales. Tentando identificar o canto dos pássaros e os sons sutis da natureza distante.
Depois desta íngreme subida inicia o Vale do Céu. A Serra Preta é uma grande formação geológica, que separa o Vale do Céu da importante calha do Rio Grande, onde está a Represa de Peixoto, que do alto da serra pode ser vista ao longe, mostrando um cenário maravilhoso.
Quantas vezes passamos, quantas vezes vimos! Mas a cada momento é realmente uma outra conotação no sentimento. Parece que as eternas montanhas têm vida, parece que os vales se vestem de uma nova vegetação a cada momento. As sombras das nuvens caminham pelos vales, alterando paisagens em mudanças das formas, como se forças gigantescas comprimissem as encostas. A tarde parece que os profundos vales andam, parece que as montanhas crescem. Projeções de sombras fazem os vales dançarem em câmara lenta, em um lento balé da natureza, orquestrado pela luz do sol.
Esta é uma importante fotografia do Google, mostrando o Vale do Céu, uma área limitada por uma Serra, Serra Preta, e os imensos paredões do Chapadão da Babilônia. Nele existem várias pousadas, com vistas maravilhosas e hospedagens de primeira. Como o próprio nome diz, Vale do Céu, é uma região maravilhosa para se hospedar.
Tenho desfrutado muito de duas pousadas neste vale: Pousada Vale do Céu. Pousada Boa Esperança, a segunda pousada é de um casal que são nossos amigos de longa data. O Sr. Eninho e Dona Gasparina.
A primeira pousada é a Vale do Céu:
Este é o restaurante da pousada. Nesta pousada existe um rio que passa encachoeirado ao lado das lindas construções. Os donos tiveram um capricho extraordinário nas instalações da pousada.
As cachoeiras ao lado das construções primorosas, são verdadeiras maravilhas da natureza, águas brotam das rochas como mantos brancos despencando initerruptamente fazendo o solo vibrar, depois se juntam em poços fazendo as águas dançarem.
Ao banhamos sentimos o borbulhar das águas. Centenas de pequeninos peixes nadam ao redor da pessoa e por vezes eles tocam a pele em busca de alguma coisa, é muito interessante este fato.
Esta construção é de um bom gosto extraordinário, seu interior tem uma decoração belíssima, não faltando o som sublime de músicas clássicas maravilhosas como concerto número 5 de HAEDIN, ALELUIA e tantas outras do mais perfeito bom gosto (Bach, Chopin, Beethoven). Maravilha mesmo. Quando lá dentro com tanta beleza, não temos vontade de sair mais, seria deixar o tempo passar, buscando naquele momento a eternidade da leveza de uma vida.
Depois com o descanso, em uma tenda que lembra culturas orientais, onde a brisa suave agita as cortinas, e os sons são os ruídos suaves das cachoeiras ao fundo, balizados pelo canto dos pássaros, sabiás laranjeira e os canarinhos da terra. Nesta foto tem uma pessoa importante, o Fued que soube nos fazer valorizar eternizando este momento.
Esta sala ficou marcada por esta grande escultura em madeira de lei. Trata-se uma figura mítica impressionante, chamada na mitologia grega, ancestral, de GRIFO.
Grifo é o nome de uma criatura mitológica que tem o corpo de leão, a cabeça e as asas de uma águia. De acordo com as lendas, os grifos eram capazes de botar ovos de ouro.
A segunda: POUSADA ESPERANÇA.
Esta pousada a frequentamos há muitos anos. O dono Eninho, é o proprietário da fazenda uma pessoa amiga, trabalhadora e hospitaleira, mas não conseguiria tocar a hospitalidade com que todos são recebidos lá, se não fosse sua esposa Dona Gasparina. Posso dizer que a dona Gasparina é a alma e o esteio do aprazível ambiente desta belíssima estalagem.
Recordando: O lugar é inesquecível. As noites escuras o céu pontilhado de estrelas, nos faz pensar no infinito do espaço que vivemos. Alguns satélites brilhantes mais silenciosos, cruzam o negro da noite, nos representam tanto que é quase inimaginável. Transmitem: sons, imagens, posições, é uma conquista maravilhosa neste extraordinário mundo conturbado que vivemos.
Derrepente, os sons nos alerta. Uma grande coruja branca com seu grasnar macabro caça um rato no pasto ao lado. Mais tarde uma matilha de cães da pousada, acuam um lobo guará que está tentando um galinheiro. A corrida é emocionante. Os cães uivam na captura do caçador, as batidas de cães rolam morro a baixo, latidos, matos amaçados, trilham a luta pela corrida. Os uivos de raiva e ódio se misturam com o ladrar do fugitivo. E na tombada da ravina todos os sons se perdem na escuridão da noite.
Horas depois os 4 cachorros que perceguiram o lobo, voltaram, mancos, cansados, estropiados e se acomodaram no gramado em frente à casa, ficando em um sono profundo.
A Boa Esperança sem dúvida, é um recando de sonho, que ajuda dar o nome ao Vale do Céu, esta planície entre as montanhas. Quando aí estamos hospedados, apenas ficar sentado na varanda de um chalé, vendo os pássaros cantarem, os animais nas verdes pastarias, as sombras caminhando pelos vales, já nos acalma o coração dando sentido a nossa existência.
Depois de passarmos pela entrada da pousada Boa Esperança, inicia-se uma íngreme subida até chegarmos a Serra da Pedra Calçada.
Esta curvinha de 90 graus, é emblemática, fica antes da Subida de Pedra Calçada, e marca o fim do Vale do Céu. Ela nunca consegue ser arranjada, pois quando chove, toda água da encosta desse erodindo esta estrada em curva.
Esta é famosa Pedra Calçada, a preocupação é sempre encontrar com alguma condução em sentido contrário. Nunca me aconteceu, mas se acontecer será mesmo um grande problema, pois voltar ou subir de fasto, nem posso imaginar a dificuldade que será! E a ribanceira que existe ao lado oposto da serra é de dar medo.
Depois da subida da Pedra Calçada entramos no Vale da Babilônia, onde uma feliz placa nos dá boas vindas.
Para cruzar o vale a Any resolveu descer o quadriciclo da caminhonete, para fazer o trajeto nele. O que foi uma ótima ideia.
O céu azul, uma brisa suave caminhava pela serraria, era um convite perfeito para uma trilha. Sentir o vento batendo no rosto, sentido a poeira em rodopios contornando curvas. Sentir as 4 rodas roçarem curvas pronunciadas, e rolarem se agarrando em íngremes subidas, são as emoções das trilhas. É um dos ambientes do quadriciclo, onde o piloto sente vontade de acelerar mais fundo, vendo o chão passar.
Nunca as estradas destes vales estiveram tão boas como nos dias de nossa passagem por lá. Maravilha! Com isso nesta reta e mesmo nas rampas e curvas a aventureira apertou fundo o acelerador, nos deixando na poeira
Depois de uma rampa paramos para vermos o panorama. O céu coberto de cúmulos de bom tempo, se perdiam apoiados pelas serras ao redor do vale, sim os blocos de nuvens brancas se uniam no horizonte, nos dando a nítida sensação dos grandes espaços percorridos e ter muito ainda a ser caminhados.
A Any sumiu na poeira, já estávamos chegando, como disse, mas ela passou direto pela Pousa da Babilônia. Ela estava se deliciando correndo pelas estradas que nem viu a entrada. Tivemos que ir atrás dela. Muito entusiasmada, passou pela pousada pulando as erosões e foi até a próxima fazenda. Onde deu uma brecada e pulou do quadriciclo. Quando chegamos, surpresa era uma cobra que estava atravessando a estrada. A cobra saiu da beirada de um curral, para escapar, muito esperta estava atravessando o caminho, mas a Any ainda conseguiu tempo de tirar estas duas fotografias da víbora.
POUSADA BABILÔNIA.
Esta fotografia diz tudo que a Pousada da Babilônia é: Muita tradição e hospitalidade. Os donos são os verdadeiros anfitriões mineiros, atenciosos, modestos e mantendo a verdadeira tradição mineira, em todos aspectos. (Sr. Reinaldo).
Este foi o chalé que ficamos não poderia haver uma acomodação melhor. Linda paisagem. Somente o canto dos pássaros, e o ruído branco do vento varrendo as entranhas das serras, é o que se ouvia.
Ao chegarmos no apartamento fomos recebidos por um bando de mais de 15 canários da terra, mas este casal menos arisco, até fez pose para a fotografia. As aves estavam muito ativas, não saberia o motivo. Não pude documentar, mas bandos de maritacas, cruzavam o ar velozes e com gritos estridentes. Pássaros pretos cantavam afinados e suplicantes na copa das árvores. Um sabiá laranjeira, declinava sua doce melodia de maneira ininterrupta no alto da cumeeira do paiol.
Não bastassem os canarinhos, esta galinha com seus filhotes, já grandinhos, virem repousar na entrada do apartamento. Seus sons, trouxeram para todos nós recordações de décadas passadas. De um tempo que nas casas havia sempre uma criação de galinhas, e pela manhã o galo alfa entoava seu longo cocorocó para despertar todo mundo. As atividades começavam bem de manhazinha, pois não havia TV, celular, assim íamos dormir bem cedo, e o despertar começava com o cantar dos galos.
Quando chegamos na pousada, tivemos uma deferência especial, nos foi servido bolo de fubá, pão de queijo, com queijo mineiro da canastra. Indo para o apartamento, tivemos uma surpresa, um canarinho estava na capota da S-10 tomando o sol da tarde. Entramos no chalé ele ainda ficou um bom tempo empoleiro, cantando e cantando, chamando uma companheira.
Na boca da noite, um bando de galinhas da angola, passou balhurentas, fazendo grande algazarra pela pousada. É uma ave primitiva de hábitos gregários. Somente se aproximam da casa para empoleirar bem alto, em uma árvore, e dormirem em segurança.
RECONHECER A SERRA DA PEDRA BRANCA. Animei e me preparei para ir com o quadriciclo verificar como estava a subida da Pedra Branca. Até a subida, que são uns 6 Km, a estrada estava convidando flanar com a máquina, com muito prazer e tranquilidade. Somente o roncar do motor invadia o capacete. Entrei na subida passando pela Pousada da Vanda.
Bem aí o quadriciclo e eu tivemos de mostrar para que viemos. A subida não havia mudado nada, o grau de dificuldade muito grande, mostrarei umas fotos. Mas subi contornando pedras, saltado erosões, acelerando e roendo pedras brancas. A tensão foi tanta, e a adrenalina atuando, que quando vi, já havia terminado a subida. Muita emoção, incrível poder estar ali na solidão da chapada comtemplando as distâncias percorridas.
Não pode deixar de tirar esta fotografia do heroico Bayau (quadriciclo), por termos juntos feito com sucesso tantas trilhas nestes 25 anos de aventuras. Quantas vezes por aí passei, com chuva, de noite, com companheiros de jipe e motos. Agora sozinho, agradeço, por poder ver o espaço e sentir a grande emoção da vida, e da riqueza que é viver.
Com a S-10 a Any estava com medo de subir a Pedra Branca. Com razão pois estava ruim mesmo. Iria convencê-la de descer a Pedra Branca.
Cheguei a pousada entusiasmadíssimo. O companheiro quis dar um treino na máquina pois eu a havia elogiado muito.
Aproveitando o lindo pôr do sol o companheiro Igor foi dar um grande passeio pela região. Como ele nunca tinha usado um quadriciclo, eu dei-lhe as explicações necessárias, pois caso contrário a pessoa não aproveita nada. Muitos pegam o guidom e forçam a direção, como se fosse a direção hidráulica de um carro, aí é o sofrimento. Pilotar um quadriciclo é se integrar, com o corpo nas irregularidades do terreno, para ter leveza na direção precisa combinar trajeto e a aceleração. O aprendizado é importante pois ele é um equipamento com tração integral nas 4 rodas.
A noite caiu mansa, que nem percebemos sua chegada. As sombras se recolheram calmamente na escuridão.
Era noite de lua cheia, mas o céu estava coberto por nuvens cúmulos, por alguns segundos entre um cúmulo e outro a linda lua iluminava as montanhas, transformando suas silhuetas em contornos de prata, como trilhas na escuridão. A única foto, da lua, foi essa, pois nossa câmara era bem simples, não traduzindo a beleza da noite.
A GRANDE VIAGEM DO DIA SEGUINTE: O CONTORNO DO CHAPADÃO DA BABILÔNIA.
Depois de um fausto café da manhã saímos para uma longa trilha pelos confins do grande Chapadão da Babilônia. Na saída vimos este gavião caracará, querendo fazer seu café da manhã, nos carrapatos do bezerro varador, mas não estava fácil não.
Este foi nosso primeiro quadro do equilíbrio ecológico da natureza. O carrapato estrela, deposita seus milhares de ovos no capim e nos arbustos. Já inicia a alimentação dos ácaros da vegetação. As centenas que sobram aderem aos animais, cavalos, vacas, bezerros, capivaras, entre outros mamíferos. Sugam o sangue necessário para seu crescimento e reprodução. Os mamíferos então, se transformam em um banquete ambulante para as aves de rapina, garças boiadeiras, anus, entre tantos outros. Todos morrem e defecam fertilizando o solo. E o círculo da vida continua.
A árvore solitária. Em sua solidão ela conta uma história. Por que em meio de tanta pastaria ela sobrou tão isolada. Qual machado piedoso a poupou. Ou alguém na roçada da capoeira alta a poupou para ter uma única sombra para a “boia Fria” do dia? A árvore passou, mas a ideia da árvore solitária nos acompanhou por muito tempo.
Logo depois da pousada havia esta fileira de ipês amarelos, elas assinalavam uma antiga mina d’água que estava praticamente secando. Contudo por baixo da terra, acredito que ainda passe humidade pela terra, para nutrir esta retilínea carreira de ipês. Essa carreira de ipês, é um atestado, que ali existiu uma nascente, um pequeno riacho, que foi morrendo, conforme todas as árvores a seu redor foram destruídas, o solo ficou lavado, a água secando aos poucos, hoje ainda resta uma umidade, que mantem esta modesta carreira de ipês. Sabe lá Deus até quando! Em outras ravinas, elas já não existem mais!
Continuamos nosso trajeto em direção a Cachoeira da Bateia.
Logo que saímos da pousada encontramos um bando de moto rasgando as poeirentas estradas da chapada. É muito gostoso “voar” por estas trilhas, os espaços se encurtam, a adrenalina banha todo o corpo, o desafio dos obstáculos é o limite. A capacidade de superá-los a aventura. O estridente e alto ronco dos motores é tudo que se ouve. O chão irregular, nas íngremes subidas ou pronunciados escarpados é tudo que vemos. As grossas poeiras das estradas, se dispersam levadas pelo vento, assim como nossas lembranças dos problemas de nossa existência. A aventura é o prazer, a satisfação é nos sentirmos vivos.
O TRASSADO DA VIAGEM, RETIRADO DO GOOGLE E AUXILIADO PELO GPS.
Em vermelho procuramos copiar o traçado do GPS de nossa viagem contornando a grande parte norte do Chapadão da Babilônia, passando: Vale da Babilônia, Cachoeira da Bateia, Rio Bateia, cruzando o chapadão pelo seu lado Este, São José do Barreiro, Casca D`anta, Igrejinha, Serra e Vale dos Cândidos, Serra Branca e de volta a Pousada da Babilônia. Mais de 150Km de emoções.
Primeiro ponto turístico a Cachoeira da Bateia.
Para se chegar a esta cachoeira tem uma trilha bem ruim, mesmo! Ela é bem curta, mas muito cheia de obstáculos, com um pouco de cuidado dá para passar. Precisa cautela. Acreditamos que logo a passagem será melhorada, pois ela é importante.
As fotografias jamais mostrarão, as belezas de uma cachoeira como esta. Nasce no meio do cerrado alto, em meio as árvores retorcidas e como por magia, uma nuvem branca de água, despenca em degraus pela rocha metamórfica já erodida pelo tempo. Como um enfeite vivo e maravilhoso da intocada natureza. A cachoeira tem vários lances, despencando rocha.
Depois de visitarmos a cachoeira, atravessamos por dentro do Rio Bateia, seguindo em direção a São José do Barreiro e Vargem Bonita.
Havia pouca água na cachoeira, não havia chovido muito na região. Mas a água limpa formava manchas brancas nas numerosas quedas da cachoeira.
A Any e o Igor subiram pela cachoeira, observando as numerosas quedas de água existentes.
Além da beleza destas águas caindo, as gotículas de água lançadas ao ar, nos deixa mais eufóricos, e com vontade de ficar lá por muito tempo. Parece que a respiração fica leve, e nos sentimos muito melhor.
Any e Igor fazendo uma pesquisa do Rio Bateia para travessia.
Igor foi ver a rampa da saída. Mas um Jeep entrou primeiro e com tranquilidae esperei ele passar pelo rio.
S-10 atravessando o Rio Bateia. Com muita tranquilidade. Existem algumas pedras no fundo do rio, assim é recomendado marcha reduzida e calma na travessia.
O íngreme barranco da saída do rio. Essa rampa já foi muito pior do que está agora. Contudo no tempo da chuvarada mesmo, precisa-se ter muito cuidado nessa travessia. Uma vez eu voltei, pois, o rio muito cheio, e a margens esquerda (esse ai), muito desbarrancada. Seria um risco a travessia.
Tive um amigo, que a noite, não percebendo a cheia do rio, pois havia dado uma tromba de água na cabeceira. Ele tentou a travessia. A correnteza muito forte foi levando seu Jeep água a baixo. Se salvou nadando. O veículo deu perda total.
Como disse hoje o barranco está maravilha. A razão desta fotografia é que ela é um divisor da aventura. Ela significa o outro lado da trilha. Quando por aí passamos significa que uma etapa foi concluída. Logo em seguida vemos a cachoeira por outro lado, lado esquerdo do rio. A topografia por uns 20 Km muda totalmente, até chegarmos ao Chapadão da Babilônia novamente.
Depois da travessia do rio, a estreita estrada vai cortando a mata galeria por mais de 10 Km, até sairmos em um lindo descampado, com um solo de aluvião muito fértil e de grande produtividade.
Com os braços abertos comprimento a natureza: Primeiro um pasto de braquiárias, que começou a se tingir de verde pelas primeiras chuvas. Depois a mata galeria exuberante do rio Bateia, um marco na paisagem, hoje o cruzaremos por uma ponte, mas antigamente, era uma travessia muito difícil. No fundo o Chapadão da Babilônia, que iremos cruzá-lo desta vertente sul, até a vertente norte, no limite do Vale do Rio São Francisco. São mais de 60 Km de chapadão.
O tempo passa e tudo vai mudando, seria o progresso? Aí onde estou há 20 anos atrás era um pasto natural, típico da região. Toda terra foi arada calcareada, e ficou excelente para o plantio.
Contudo há anos atrás, víamos tantos pássaros na capoeira alta da região! Dezenas de buracos de tatu, rastros de tamanduás, e uma exuberante e diversificada flora. E agora? Um milharal sem fim, para ser produtivo, pulverizações que matam as pragas, mais quebram totalmente o equilíbrio ecológico, depois: Onde estão os pássaros, os animais e os insetos? Em um futuro talvez distante, onde estará o homem?
A ESPERANÇA ESTÁ NO CHAPADÃO AINDA NÃO MANEJADO. As terras do chapadão estão praticamente em seu estado natural, pois não podem ainda serem mecanizadas. Tirando as queimadas periódicas, tudo permanece o mesmo a séculos.
O chapadão se descortina a nossa frente, nos parecendo ainda o refúgio de uma natureza bruta, agreste, desafiadora, mas intocada. O riacho com seus meandros, ziguezagueia pelas encostas do chapadão.
Salve o chapadão, de suas altas ondulações contemplamos infinitas distâncias. Espaços que nos atraem, mesmo no isolamento que estamos nos sentimos vivos, exultantes de estarmos ali, desfrutando do vento que varre distâncias, das modestas estradas que se contorcem em ravinas, vendo inúmeras e lindas flores destas alturas isoladas. Onde está o começo onde estará o fim, nossa busca continua pelos horizontes do imenso chapadão.
Flores, milhares, enfeitam nossa passagem.
Any muito sensível nos fez parar. Caminhando a pé, pelo agreste espaço, foi documentando numerosas e belíssimas flores do campo. São milhares, dos mais variados espécimes, torna até difícil escolher aquelas mais representativas do lugar.
O famoso botânico BURLE MARX, visitando estes chapadões, assim como os na região da Serra do Cipó, disse que não existe ecossistema que tenha mais diversidade de flores do que estes campos de altitude. Caminhando por estes lugares, Complexo da Canastra, Serra do Cipó, Chapada dos Guimaraes, humildemente tenho que concordar com o mestre do paisagismo, as florezinhas do campo são lindas mesmo. Há que haver sensibilidade para observá-las, com muita calma, enquanto o tempo passa.
Como disse o importante é o trajeto. Assim paramos, analisando a natureza como um todo. Procuramos parar e fotografar esses momentos, pois eles se tornaram raros nos dias de hoje. Assim podemos nos recordar para sempre, pois estas visões, esses sentimentos podem não retornarem mais, são únicos. Se um dia voltamos, poderemos não gozar das mesmas emoções.
Any caminhou muito por todo campo, que havia sofrido uma queimada na seca, agora com as primeiras chuvas, explodia em sua exuberância de flores e vegetações. O capim que primeiro resistiu a seca, depois ao fogo, agora renasce exuberante, em sua energia de viver.
É impressionante estas centenas de quilômetros de muros de pedras, provavelmente feitos por escravos no século retrasado. Estas construções feitas com precisão e habilidade artesanal, impressionam muito. Existem até currais feitos de pedras na Serra da Canastra. Estas construções existem por todo Complexo da Canastra: Serra das 7 Voltas, Serra Preta, Babilônia, Chapadão da Zagaia…
Este cruzamento é o final do Chapadão da Babilônia, deste ponto começamos a descer abruptamente para o Vale do Rio São Francisco, existem muitas propriedades nesta encosta e cenários muito bonitos. Em uma propriedade encontramos até um casal de avestruzes. Na fotografia a ave está pegando um pão de queijo jogado no ar.
Nas maravilhosas visões da descida do chapadão para São José do Barreiro esta árvore surpreendeu pela sua beleza, se enquadrando na paisagem. Na fotografia não representa, mas seu tamanho era imenso e seu aspecto um marco extraordinário na paisagem.
Que agradável surpresa foi quando em uma fresta entre as árvores e pedras, pudemos com a teleobjetiva vislumbrar o Rio São Francisco despencando da Serra da Canastra. Uma pequena mancha branca no horizonte distante, nos localizou no espaço de nossa viagem, confirmando nossa posição real no complexo de trilhas e caminhos tortuosos que estávamos percorrendo a horas.
Nesta fazenda, que fica na descida do chapadão para São José do Barreiro, há anos ao passarmos por aí, a moradora estava com uma maritaca ferida na mão, a Any pegou para tratar da ave, a Kitinha. Ela sarou e hoje é uma ave de estimação. Não encontramos as irmãs da Kitinha, mas havia um pássaro preto apaixonado, que deu um concerto maravilhoso com seu canto melancólico, neste dia. Tentando chamar a fêmia que estava na palmeira ao lado.
Logo em seguida, descendo pela encosta, foi possível ver a Serra da Canastra, em seu limite. Este.
No vale do Rio São Francisco, já aparece a estrada que acompanha o grande rio. A estrada que vai de Vargem Bonita para São José do Barreiro. Impressionante é o paredão sul da Canastra, como um marco monumental do início do grande chapadão.
Esta fotografia do Google mostra em um traçado azul nossa passagem pela área de São Jose do Barreiro. O início do traçado a direita é o lugar de onde tiramos a fotografia anterior. O fim do traçado na cidadezinha é onde está o restaurante onde almoçamos. Depois a linha continua em direção a Casca D`Anta. A mata galeria no alto da fotografia é o Rio São Francisco.
De uma fenda da serra brota como um véu branco, a cachoeira do Rio São Francisco. Uma imagem marcante e inesquecível assinala sua presença no espaço. Nos lembrando do tempo. O espaço são as distâncias que nos separa, ela estaria perto, longe, é estática ou despenca, a milhares de anos, em um tempo imemorável. Já calcularam o tempo, que a corrente levou para fender e erodir a rocha, seria 100.000 milhões de anos ou menos!
Tão grande e marcante quando estamos perto. E se perdendo no espaço quando visto dos céus. Assim somos todos nós, tão grandes e importantes, quando dentro de nós mesmos e depois, vamos nos distanciando no tempo e no espaço, até não nos tornarmos nada mais que um pequeno grão de poeira no cosmo de nossa existência.
Esta fotografia do Google mostra a parte alta da cachoeira, onde ela aparece nada mais que uma pequena manchinha branca na encosta do chapadão.
Esta fotografia mais longe, mostrando em azul nossa passagem pela região da cachoeira. A queda d´água quase imperceptível, assinalada por uma setinha vermelha. Que imensidão, que maravilha. Deste ponto começamos a subir, em rampas pronunciadas, que delimitam vales, de marcantes topografias.
A CAPILINHA, OU IGREJINHA FICA NO PONTO MAIS ALTO DA SERRA DOS CÂNDIDOS.
Esta fotografia é do Google, mostrando a capelinha fechada por uma cerca. Segundo o Sr. Soares esta cerca foi necessária pois depois da reforma, quando chovia ou fazia frio, o gado forçava a porta da capela e entrava dentro, sujando tudo.
Esta fotografia é de 2005. Neste ponto mais alto do chapadão somente havia esta igrejinha. Mais corretamente Capelinha de São Sebastião. Segundo consta ela havia sido reformada para um casamento, de uma pessoa muito especial. Deste ponto, que chamamos de Alto da Igrejinha, temos uma visão maravilhosa dos Vales: do Rio São Francisco, de onde podemos ver no horizonte a noite várias cidades incluindo Piumhi, Vargem Bonita, São João Batista do Gloria; e o Vale dos Cândidos.
Hoje já existe nesta área um restaurante modesto, mas muito acolhedor, incluindo uma senhora que faz o melhor queijo da canastra de toda a região. Sempre que posso, assim como muita gente, passa por lá. A igrejinha há muito tempo é um importante ponto de referência no Complexo da Canastra.
Para os trilheiros a Igrejinha, na Serra dos Cândidos. Mas corretamente Capelinha de São Sebastião. O espaço e o tempo, quanto simbolismo podemos deduzir desta fotografia.
Esta imagem do Google mostra o esquema de nossa passagem pela Morro da Igrejinha: O traçado laranja é a chegada, em uma subida muito íngreme e cheia de curvas fechadas, em seguida a passagem pelo pequeno plano da igrejinha. Em azul segue a modesta estrada na travessia do Vale dos Cândidos em direção a Serra Branca.
Este é o padrão das estradas em boas condições, depois de passar pelo alto da Igrejinha. Este solo claro, talvez um pouco ácido, rico em sílica, é coberto por uma vegetação típica do cerrado baixo. Hoje acharam uma gramínea capaz de substituir a “barba de bode”, nestes terrenos: a braquiária. Esta vegetação mudou totalmente a maneira de formar pastagens por todo este Brasil a fora.
Aí nesta fotografia está na natureza a prova dos fatos: Um braquiária, verde nascendo exuberante, depois de uma queimada e seguida de uma pequena chuva, que havia caído na região. Este capim é nativo nas savanas africanas, e de lá foi trazido, se aclimatou no Brasil. Hoje invadiu todos campos, um sucesso para a pecuária ao pasto.
As distâncias são longas, o espaço distante. Neste ponto paramos para vermos ao longe Jipes descendo para o vale, vindos do Chapadão da Babilônia. A parada foi profícua, pois flores enfeitavam pedras.
Any, caminhando pelo pasto, pode aumentar sua coleção de belezas ao lado da trilha, na encosta ao lado, que por sinal era bem abrupta. Nos vãos das pedras, nas íngremes encostas a natureza se enfeita com raros tipos de flores.
Tive o prazer de caminhar muitos quilômetros observando a arte e a técnica de quem, a mais de 100 anos, construiu esta divisa de pedras. Esta construção ainda se perdia nas distâncias de nossa visão.
Não representa na fotografia, mas esta é uma rampa de grande inclinação e de grande dificuldade. A íngreme subida é muito ruim e sulcada por erosões profundas. Tivemos que subir em reduzida e com muita calma, passando de través nas erosões mais fundas. É a aventura e a emoção da aventura.
Do alto do chapadão, o panorama é incrível. Grotões profundos com paredes esculpidas pela erosão. Campos floridos, pequenas florezinhas brancas enfeitando o capinzal. Quando andamos pelos caminhos, vemos as pastarias enfeitadas de flores, se destacando na paisagem.
Tudo é muito grande, profundo, especial, vendo as encostas sulcadas, algumas atapetadas por grandes árvores, ficamos até sem referência para aquilatar distâncias. Somente quando andamos e andamos, e a paisagem teima em se alterar, é que podemos avaliar quão grande são estes chapadões e os vales que formam os profundos grotões.
Em cada moita de capim uma nova forma de flor aparece. A diversidade é muito grande, a natureza é pródiga em belezas por estas alturas descampadas de serras. O passeio é sempre emoção, o senário a beleza, o horizonte é infindo na expectativa de novas visões maravilhosas.
Considerando a mão de obra de hoje em dia, chega a ser inimaginável pensar como esta centena de quilômetros de muros de pedra foram construídos. Mesmo sendo feito por escravos, é difícil aquilatar tal trabalho, imaginar o deslocamento de tantos milhares de pedras, imaginar adaptá-las cada uma em seu lugar certo. A logística do trabalho: a água para beber, o transporte de pessoas e materiais, alimentação e a escolha das pedras?
É ver e imaginar! Quantos anos passamos por estas construções, incluindo currais de pedra, sem se quer imaginar o trabalho sepultado por estas obras monumentais, pelo tamanho e esforço quase sobre humano para realiza-las.
O passado é como folhas mortas, caem das árvores rodopiando e flutuando nos espaços, nós as admiramos. Poetas as descrevem em tocantes poemas. Depois no chão, são consumidas pelos fungos, e ninguém mais lembra da sua fundamental existência, a síntese da matéria com a clorofila de seus extraordinários vacúolos, sintetizando toda a matéria viva de nossa existência.
No meio das pedras Any procurou beleza, encontrou o cenário agreste enfeitado de flores. No meio das pedras Any buscou escolhas, tantas florem eram, que o caminhar foi difícil.
No espaço que andamos encontramos uma guardiã atenta. Com voos rasantes e aos gritos tentam nos afastar do lugar. Com calma fomos caminhando até achamos o buraco da ninhada.
Depois vimos a causa, em uma toca no pé deste cupim havia dois crescidos filhos de coruja. Com os alertas da mãe saíram da toca, e fizeram pose para uma foto.
A mãe não gostou e aos gritos os dois filhotes correram para o capim e entraram na toca. Não é sem motivo que estas singulares aves são chamadas de CORUJAS BURAQUEIRAS.
No complexo da canastra os criadores de gado têm um manejo típico para engorda e manutenção do gado. No período da seca, levam o rebanho para as baixadas úmidas e tratam do gado. No período da chuva eles retornam com o rebanho, para os animais se alimentarem com a brota da pastaria.
Há pouco tempo passado, eles pouco antes das chuvas, punham fogo na macega, para a rebrota ser mais vigorosa. Hoje é proibido essas queimadas, mas ainda elas ocorrem, como pudemos constatar, em várias ocasiões.
Nos países de muito frio, eles têm um manejo muito preciso, devido ao gelo. No inverno recolhem os animais. No verão levam o gado para as pastarias de rebrota, geralmente também nos chapadões das serras.
As grandes migrações de animais no mundo, na África, Canadá, Rússia, entre outros países e regiões, seguem esse mesmo ciclo para a migração, sempre em busca de comida e reprodução dos espécimes. Isso ocorre em todos biomas da Terra: Na água, na Terra e no Ar.
As flores se abrem entre as pedras, sinalizando a vida que se renova com as chuvas de verão. O trilheiro, ou o viajante, não basta passar pelos lugares, é muito importante observar com atenção, pois a natureza é plural, múltipla, precisamos sabermos olhar com atenção, caso contrário as viagens se resumem na saída e na expectativa da chegada, o que é lamentável.
Quilômetros à frente um casal de quero-quero nos enfrentou aos gritos. Tentamos achar seus filhotes, mas não conseguimos. Acredito que seus gritos eram um despiste de onde sua ninhada realmente estava.
Algumas características desta ave acho importante, pois elas existem em todos os lugares. Ela é de pequeno porte, possui um esporão pontudo nas asas, tem um penacho na região posterior da cabeça. (A fotografia da ave foi retirada do Google)
No caminho para a Serra Branca, passamos por um profundo vale, com grutas, e erosões perigosas e muito pronunciadas, exigindo perícia e cuidado sempre. A estrada neste profundo vale, sempre foi precária, existindo 3 alternativas, mas todas com suas dificuldades.
PEDRA BRANCA.
Existe uma certa variação de nomes praticamente para o mesmo lugar Serra Branca, Subida da Pedra Branca ou simplesmente Pedra Branca.
Como disse no dia que cheguei, subi a Serra Branca com o quadriciclo, tirei esta fotografia. Este lugar fica pouco antes de iniciar sua descida da serra. Ela mostra a direita a Serra Preta mais ao longe. A esquerda O Chapadão Da Babilônia. Entre eles o maravilhoso Vale da Babilônia.
Subir ou descer a serra, é uma experiência bastante desafiadora, precisa ser feito com conduções próprias para trilhas, e ter bastante cautela. Caso contrário pode acontecer o que um amigo sempre fala: ”Salta-se fora do mundo”
A famosa subida é íngreme, cheia de grandes pedras e erosões. Há muitos anos, no tempo da caminhonete D-20 a diesel eu e meu irmão Geraldo tentamos por todos os modos subi-la, mas não teve jeito. A caminhonete era nova os pneus próprios, mas sem a tração não conseguimos. Voltamos batidos.
Alguns trechos da rampa, chega a dar um pouco de medo, a reduzida na condução torna-se necessário, e a habilidade do condutor inquestionável.
Antes da subida da Pedra Branca já existe um trecho desafiador de trilha. Nas erosões temos que tomar muito cuidado. Estes são 3 Jipes de uns amigos de São José do Rio Pardo. Eu nesse dia subi com o meu quadriciclo, o que facilita muito as trilhas.
Uns companheiros de moto já haviam passado à frente, mas dois deles tiveram um intercurso desagradável na subida da Pedra Branca. O Marcelão teve que completar a subida para um dos amigos. São aventuras das trilhas, são intercursos inevitáveis, se queremos ter emoção.
Aquela linha vermelha é o traçado do GPS no lugar da Pedra Branca, nesta fotografia do Google não dá para se perceber as dificuldades de passar por este famoso e desafiador lugar.
Aí está a pousada da Babilônia, o traçado azul é nossa saída de manhã. O vermelho é nossa chegada 12 horas depois da viagem que acabei de tentar relatar para os companheiros trilheiros.
Vermelho está o traçado de nossa viagem pelo Chapadão da Babilônia incluindo o círculo completo do passeio. Recomento essa viagem aos amigos, ela é de paisagens lindas, de cachoeiras, vales verdes e profundos, rampas a serem roídas por nossos pneus, curvas abruptas, e um isolamento de tudo. Nas alturas do chapadão, somente encontramos o vento que varre as distâncias, as flores silvestres desconhecidas que enfeitam nossa passagem, aves cuidando de seus territórios, as vezes um lobo guará bem grande ou um tamanduá bandeira. O traçado azul é o curso do RIO SÃO FRANCISCO depois da cachoeira, quando ele despenca da Serra da Canastra.
NO OUTRO DIA FOMOS A CACHOEIRA DA MARIA AUGUSTA.
Atravessamos o Vale da Babilônia, descemos pela Descida da Pedra Calçada, cruzamos o Vale do Céu e entramos para a cachoeira.
Por ser de rara beleza o lugar é muito frequentado pelas pessoas de toda região. O acesso na cachoeira não muito tranquilo, tem que se atravessar rios, mas é tudo muito bonito, vale a pena de ser visitado.
Logo depois de sairmos da estrada principal e subirmos uma pronunciada encosta, no alto da serra nos deparamos com este cenário grandioso. Tudo estava verde, a mata galeria do rio era um enfeite que parecia ter sido colocado artisticamente naquela posição. Os caminhos pareciam um traçado seguro de um lápis gigantesco, marcando com segurança os destinos.
Antes da cachoeira passamos por um riacho de águas absolutamente limpas, um fundo arenoso, que deu até dó de sujar e agitar as mansas águas da passagem.
A Cachoeira da Maria Augusta é realmente maravilhosa, não somente pela evolução e contorno das múltiplas quedas d`água, mas pelo lugar da rocha onde ela está situada, desce formando um véu branco de nuvens que em alguns pontos desaparecem no espaço. Esta névoa que se esvoaça pelo espaço, torna o ambiente muito agradável, embalado por um ruído branco que emana da própria rocha, tornando o lugar um ambiente único e muito prazeroso.
Esta é uma fotografia do satélite do Google, somente a 48Km de altitude foi possível captar esta harmonia, sintetizada em uma única imagem. O traçado da estradinha como eu a vi: um grande lápis riscando a mata. E o rio, em quedas d’água, desgastando a dura rocha, onde o ruído da natureza é tudo que se ouve. No fim um poço de águas turbulentas e oxigenadas, propiciam bem-estar para todos.
Encerramos nosso grande passeio nos preparando para o mergulho.
Realmente recomendo este roteiro para quem quer iniciar conhecendo o Complexo da Canastra. Não é nada fácil indicar um roteiro, pois são tantos e todos maravilhosos, eu diria que em cada passeio temos uma visão, e em cada lugar, uma imagem inesquecível.